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sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Dicas para o fim de semana – Duas peças profundas

Às vésperas do carnaval, o Rio de Janeiro oferece muito mais que samba. Para aqueles que procuram coisa mais séria, que trata da relação humana, recomendo duas peças muito especiais. Ambas com uma forte queda surrealista.

Com oitenta e cinco minutos, A Lua vem da Ásia - no CCBB até domingo (27/2) -, é um verdadeiro manifesto surrealista adaptado do livro homônimo do escritor mineiro Campos de Carvalho. O monólogo conta, em forma de diário, a trajetória de um homem incomum em busca de entendimento e justificativa perante a lógica do universo em que vive. Um questionamento sobre as pessoas, as coisas e o mundo. São situações que o autor parecia se encontrar.

Para se ter uma idéia, em 1997 (um ano antes de morrer) Campos de Carvalho concedeu sua primeira e última entrevista. O repórter perguntou se ele era feliz. Após um minuto e meio veio a resposta: “Não”. O repórter então arriscou: “Se o senhor pudesse mudar alguma coisa no mundo, o que mudaria?” Depois de mais um longo silêncio, Campos de Carvalho respondeu: “Nada”.

Assim era Campos de Carvalho, tão desconcertante quanto a peça baseada em seu livro e brilhantemente dirigida por Moacir Chaves. O ator Chico Diaz dá uma aula de interpretação valorizando ainda mais a história. Em determinados momento ele brinca com o público para quebrar a tensão, que não é pouca.

A Lua vem da Ásia está em cartaz até o próximo domingo (27/2) no CCBB. A sessão começa às 20 horas e o ingresso custa R$10.

Do centro para o Jardim Botânico. No Espaço Tom Jobim, mais um espetáculo sério e ofegante. A peça Não sobre o amor é baseada na troca de correspondências entre os escritores Shklovsky, importante teórico do formalismo russo, e a romancista franco-russa Elsa Triolet. A história, a beleza do cenário e as atuações de Leonardo Medeiros e Simone Spoladore conseguem prender a atenção do espectador por 120 minutos.


Quem pensa que é uma história de amor está muito enganado. A peça é também uma forma que o autor Shklovsky (exilado na Alemanha) encontrou para expor seu sentimento de solidão. A narrativa fala de ausência, saudade que move o exilado, de reconstrução da vida e readaptação daquele que se encontra fora do seu espaço original.

Para a montagem, foi instalado um cenário nada convencional, que pode ser considerado uma mistura de teatro, literatura e artes plásticas. A caixa-quarto é quase uma prisão, impessoal, onde a memória e os pensamentos vêm e vão, de forma desconexa, como num sonho. Móveis e objetos deslocados pela parede e teto dão um tom surreal à peça. Textos e imagens também são projetados na parede. Além disso, as interpretações de Medeiros e Spoladore são um show a parte.

Então, não deixe de assistir Não sobre o amor, sábados e domingos às 19 horas, no Espaço Tom Jobim. O ingresso custa R$ 50.

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