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terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Da crise à festa no Egito – O panorama político atual


  
O que está por trás de uma revolução supostamente libertária

Alexandre Matos
O dia 11 de fevereiro de 2011 se tornou um marco na história. O mundo assistiu a um levante popular que retirou um déspota do poder após trinta anos de exploração. O ex-presidente do Egito, Hosni Mubarak, não resistiu às pressões e renunciou ao cargo. Um ato plausível. Parabéns aos egípcios. Mas e agora? Como fica a situação do país e o panorama político mundial?
 
As ditaduras me parecem ter sido as únicas formas de conter o radicalismo islâmico. Acabar com uma autocracia de três décadas seria motivo suficiente para o mundo comemorar. O movimento, porém, é liderado por militantes islâmicos, Irmandade Muçulmana. Agora que tiraram Hosni Mubarak do poder, o futuro é incerto. Certo mesmo é que o mundo torce pela democracia naquele país. Mas caso a Irmandade Muçulmana consiga o poder, o cenário político mundial pode ficar mais vulnerável.


O Egito é a maior nação árabe, com 84 milhões de habitantes. Geograficamente, o país está numa posição estratégica. Localizado entre África e Ásia, é cortado pelo Canal de Suez, uma importante rota comercial que liga o Mar Mediterrâneo ao Vermelho. Além disso, Argélia, Sudão e Tunísia, na África, bem como Iêmen e Jordânia na Ásia, seguem o exemplo do Egito, promovendo revoltas contra regimes autocráticos.

Uma brecha para o fundamentalismo
Essa situação só prova que os governos apoiados pelos Estados Unidos ensaiam um discurso progressista e democrático, mas na verdade são corruptos e exploradores.  Com o tempo, eles não conseguem sustentar a farsa, mas o estrago já é grande. Iraque, Afeganistão e Chile são alguns exemplos. O primeiro foi um aliado para o controle dos poços de petróleo na região do Golfo Pérsico e conter o avanço islâmico no Oriente Médio. O segundo, uma manobra política para evitar o avanço soviético na Ásia. Já o sul-americano teve uma das piores ditaduras da América Latina. Funcionou como uma arma contra o comunismo de Allende. A história mostrou a tirania de Pinochet, Saddan Hussein e da facção Talibã. O Egito é outro financiado pelo governo americano e sua equivocada política externa.
O medo e a total descrença em Mubarak, supostamente democrático, colaboram para que os egípcios saíssem de um ditador. Agora, porém, podem cair nas mãos de manipuladores fundamentalistas. O grupo islâmico promove um discurso teoricamente democrático e libertador. O povo egípcio está esgotado pela corrupção que enfraquece o país há três décadas. Acrescenta-se a esse fato a ignorância. Mistura todos esses ingredientes: pobreza, corrupção, descrença política, ignorância e revolta. Aumente o fogo e pronto. O resultado é um jogo de manipulação e dominação. Essa é a receita perfeita para a instalação do fundamentalismo no país africano.

Se voltarmos à história, veremos que coisa parecida aconteceu na Rússia. A revolução de 1917 derrubou o czar e “conduziu o povo ao poder”. A que poder o povo foi conduzido? Foi instituído o Socialismo Soviético, que atravessou o século XX e escravizou nações no leste europeu e Ásia, além de influenciar países da África e América Latina. Fenômeno parecido aconteceu na China e Cuba, que até hoje sofrem as conseqüências. Na Revolução Francesa, de 1789, por exemplo, as idéias eram semelhantes às da Rússia. Após a derrubada da monarquia quem assumiu o poder foi Napoleão. O objetivo era pôr fim ao regime totalitário do monarca e estabelecer uma república democrática.  O que se viu, no entanto, foi o surgimento de um novo império, o napoleônico

Esses movimentos são carregados de ideologias política, econômica e religiosa. Mas o que realmente está por trás de cada uma delas? São essas questões que temos de analisar. Sugiro o livro O que é Ideologia? - de Marilena Chauí. A escritora faz um traçado histórico e o que encobre os movimentos revolucionários. Segundo a autora, a função principal da ideologia é ocultar e dissimular as divisões sociais e políticas. A saída de Mubarak do poder foi um grande avanço. Mas é preciso ter cautela para que a história desastrada não se repita.

Torcemos por um Egito maduro o suficiente para eliminar qualquer semelhança com comunismo, imperialismo ou fundamentalismo. Que do alto de sua tradição, cultura e sabedoria milenares, o povo saiba expelir toda forma de regime totalitário e comece a reescrever sua história. Os Estados Unidos e seus aliados do mundo ocidental, por outro lado, precisam rever sua política internacional. Não é tolerável que no século XXI voltemos à Idade medieval com reinos que escravizam os povos.





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