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sábado, 26 de fevereiro de 2011

Globo abre mão de licitação para o Brasileirão 2012

Alexandre Matos
A Rede Globo desistiu oficialmente de concorrer à licitação dos direitos de transmissão do campeonato brasileiro de futebol a partir de 2012. Com isso, a rival Record dá um passo importante para conseguir exclusividade.

Por meio de comunicado, a Globo informou que pretende dialogar direto com os clubes, individualmente. Segundo a emissora, o modelo do Clube dos 13  – a grosso modo, uma espécie de sindicato dos principais times do país - impede “qualquer perspectiva de um retorno compatível com os investimentos na compra dos direitos”.
Atualmente, a Rede Globo exibe os jogos do Brasileirão e ninguém tem dúvidas sobre a qualidade das transmissões e a competência de seus profissionais. O que deve ser discutido, porém, é o conforto do torcedor. Os jogos do meio da semana, por exemplo, acontecem, normalmente, às 22 horas. Isto porque a emissora não mexe em sua grade de programação – novelas, Big Brother.... por fim  o futebol. O torcedor, movido pela paixão, é obrigado a se deslocar até o Engenhão, ou outro estádio, às dez da noite, para ver seu time jogar. Uma covardia.

A Rede Record, por outro lado, não tem a tradição da rival em futebol, mas promete que as partidas acontecerão às 19 horas – um horário conveniente para todos. Quem sair do trabalho, por exemplo, pode aproveitar que já está na rua mesmo e ir ao estádio torcer pelo seu time sem chegar tão tarde em casa. Imagine sair do Engenhão a meia-noite - ou mais tarde, dependendo da competição -, sabendo que vai acordar cedo para trabalhar no outro dia.

Uma situação que leva à evasão dos estádios. Times muitas vezes ficam desfalcados da torcida, por conta dessa negociação. Os dirigentes dos clubes, por outro lado, não estão nem aí se estádio vai estar vazio, afinal, o dinheiro já está garantido com a venda da transmissão

As regras do jogo estão na mesa e todos sabem quem é quem. Resta saber se os clubes ainda vão se render à sedução financeira da Globo - ou de outra emissora que possa praticar a mesma covardia -, ou privilegiar o seu maior patrimônio, a torcida.


sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Dicas para o fim de semana – Duas peças profundas

Às vésperas do carnaval, o Rio de Janeiro oferece muito mais que samba. Para aqueles que procuram coisa mais séria, que trata da relação humana, recomendo duas peças muito especiais. Ambas com uma forte queda surrealista.

Com oitenta e cinco minutos, A Lua vem da Ásia - no CCBB até domingo (27/2) -, é um verdadeiro manifesto surrealista adaptado do livro homônimo do escritor mineiro Campos de Carvalho. O monólogo conta, em forma de diário, a trajetória de um homem incomum em busca de entendimento e justificativa perante a lógica do universo em que vive. Um questionamento sobre as pessoas, as coisas e o mundo. São situações que o autor parecia se encontrar.

Para se ter uma idéia, em 1997 (um ano antes de morrer) Campos de Carvalho concedeu sua primeira e última entrevista. O repórter perguntou se ele era feliz. Após um minuto e meio veio a resposta: “Não”. O repórter então arriscou: “Se o senhor pudesse mudar alguma coisa no mundo, o que mudaria?” Depois de mais um longo silêncio, Campos de Carvalho respondeu: “Nada”.

Assim era Campos de Carvalho, tão desconcertante quanto a peça baseada em seu livro e brilhantemente dirigida por Moacir Chaves. O ator Chico Diaz dá uma aula de interpretação valorizando ainda mais a história. Em determinados momento ele brinca com o público para quebrar a tensão, que não é pouca.

A Lua vem da Ásia está em cartaz até o próximo domingo (27/2) no CCBB. A sessão começa às 20 horas e o ingresso custa R$10.

Do centro para o Jardim Botânico. No Espaço Tom Jobim, mais um espetáculo sério e ofegante. A peça Não sobre o amor é baseada na troca de correspondências entre os escritores Shklovsky, importante teórico do formalismo russo, e a romancista franco-russa Elsa Triolet. A história, a beleza do cenário e as atuações de Leonardo Medeiros e Simone Spoladore conseguem prender a atenção do espectador por 120 minutos.


Quem pensa que é uma história de amor está muito enganado. A peça é também uma forma que o autor Shklovsky (exilado na Alemanha) encontrou para expor seu sentimento de solidão. A narrativa fala de ausência, saudade que move o exilado, de reconstrução da vida e readaptação daquele que se encontra fora do seu espaço original.

Para a montagem, foi instalado um cenário nada convencional, que pode ser considerado uma mistura de teatro, literatura e artes plásticas. A caixa-quarto é quase uma prisão, impessoal, onde a memória e os pensamentos vêm e vão, de forma desconexa, como num sonho. Móveis e objetos deslocados pela parede e teto dão um tom surreal à peça. Textos e imagens também são projetados na parede. Além disso, as interpretações de Medeiros e Spoladore são um show a parte.

Então, não deixe de assistir Não sobre o amor, sábados e domingos às 19 horas, no Espaço Tom Jobim. O ingresso custa R$ 50.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Os melhores do Oscar 2011

Alexandre Matos

Este Oscar 2011 promete. A entrega da estatueta será no próximo domingo (27/2), mas as apostas já começaram. Eu já fiz as minhas. E você já arriscou os seus palpites? Selecionei as premiações mais importantes – Filme, direção, roteiro e ator/atriz.
 
Meu filme preferido é Inverno da alma. O favorito, porém, é O discurso do rei, o que prova que uma história teoricamente simples, embasada por um roteiro perfeito e atuações brilhantes - de Colin Firth e Geoffrey Rush – é capaz de sensibilizar o público.

Para diretor, eu aposto em Tom Hooper. Graças à sua direção, O discurso do rei é o grande favorito ao Oscar deste ano. Colin Firth – O discurso do rei – leva o prêmio e ainda dispensa qualquer comentário. O inglês é um fenômeno no quesito atuação. Todos acreditam no que ele fala. Poucos atores conseguem fazer tanta coisa boa sem altos e baixos.


Páreo duro será a escolha de melhor atriz. Annette Bening e Natalie Portman vão travar uma disputa particular. Cisne negro foi feito sob medida para Portman, mas Annette Bening é uma referência para as outras atrizes.

Em Minhas mães e meu pai, Bening simplesmente brinca de atuar. O público acredita que ela é uma lésbica autêntica. Bom seria premiar as duas ao mesmo tempo. Como não é possível, torço por Natalie Portman pelo excelente trabalho em Cisne Negro.


Para ator coadjuvante, aposto todas as minhas fichas em Christian Bale, de O vencedor. Ele rouba a cena na IMPRESSIONANTE interpretação do ex-pugilista e viciado em crack, Dicky Ecklund.

Steinfeld pode desbancar Melissa Leo

 Atriz coadjuvante também pode sair de O vencedor. Melissa Leo mostra toda a sua experiência no filme, mas a disputa não será nada fácil, pois Hailee Steinfeld, de Bravura Indômita, está inspirada no longa dos irmãos Coen.




Enfim, torcemos para que Lixo Extraordinário vença como melhor documentário. O problema é que o concorrente americano, Inside Job, é também um bom documentário e fala sobre a crise financeira nos Estados Unidos, por isso tem grande apelo para levar a estatueta.





A sorte está lançada. Independente da escolha foi ótima a safra deste ano. Tanto o público, quanto a indústria cinematográfica ganharam com as indicações.
Segue a lista com os outros concorrentes:

Melhor filme:
A rede social
O discurso do rei
Cisne negro
O vencedor
A origem
Toy Story
Bravura indômita
Minhas mães e meu pai
127 horas
Inverno da alma

Melhor diretor:
David Fincher – A rede social
Tom Hooper – O discurso do rei
Darren Aronofsky – Cisne negro
Joel e Ethan Coen – Bravura indômita
David O. Russell – O vencedor

Melhor ator:
Jesse Eisenberg - A rede social
Colin Firth – O discurso do rei
James Franco –127 horas
Jeff Bridges –Bravura indômita
Javier Bardem –Biutiful

Melhor atriz:
Annette Bening –Minhas mães e meu pai
Natalie Portman – Cisne negro
Nicole Kidman - Rabbit hole
Michelle Williams - Blue valentine
Jennifer Lawrence - Inverno da alma

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Lixo - Um desafio para a sociedade atual


Alexandre Matos

A cerimônia de entrega do Oscar 2011 será no próximo domingo (27/2). Nosso único representante é o documentário (longa-metragem) Lixo Extraordinário, que mostra o trabalho do artista plástico Vik Muniz.

Em homenagem ao filme brasileiro, apresento aqui uma reportagem sobre o lixo que fiz há algum tempo. Uma matéria bem objetiva que traz dados que todos devem tomar conhecimento.

Clique aqui e assista ao Lixo – Um desafio para a sociedade atual

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Dicas culturais - Exposições

Alexandre Matos

Dicas de exposições para este fim de semana. Ótimos programas culturais no Centro do Rio. Todos de graça. A sorte está lançada. Só não aproveita quem não estiver a fim. Confira.
Fla-Flu, de Djanira, é uma das obras expostas no Paço Imperial


Inicio essa rota da cultura pelo Paço Imperial, na Praça XV. Só o fato de freqüentar o prédio da primeira metade do século XVIII já é motivo suficiente para despertar emoção. Porém, o espaço oferece mais que isso. Nele o visitante tem uma surpresa ao se deparar com aproximadamente 150 obras da exposição Bem do Brasil, Patrimônio Histórico Brasileiro.  A mostra retrata as múltiplas expressões materiais e simbólicas da identidade nacional. Uma forma de valorizar a diversidade dos acervos culturais, desde artes sacras à cultura popular e erudita do país. A instalação fica até 20/2.


A instalação motra alternativas de transportes e arquitetura em inúmeras cidades 

Antes de continuar a peregrinação, vale passar no café – no pátio interno do Paço – para um cafezinho com torta. Abastecido, a exploração cultural continua pelas ruelas do Rio Antigo. Um corte pelo Arco dos Teles e rapidamente se chega ao Centro Cultural dos Correios, que apresenta uma exposição muito interessante e vale a pena conferir. As cidades somos nós - Desenhando a mobilidade do futuro – traz algumas idéias sobre transporte e arquitetura nas grandes cidades. Mostra como a bicicleta é uma eficiente alternativa de transporte. A foto acima indica o clima da instalação. Imaginem uma Central do Brasil assim.
   

 Em seguida, a exposição Laura Lima Grande, em cartaz até 20/02 na Casa França Brasil. Para o belíssimo prédio neoclássico, a artista concebeu quatro obras que lidam com a obscuridade da criação, bastante conceituais. O público tem contato imediato com o caos, a razão e a loucura do labor artístico. Pessoas nuas fazem parte da instalação. Um programão.
  
Bem a frente, no Centro Cultural Banco do Brasil – CCBB -, duas grandes exposições para deleite do público. Cora Coralina – Coração do Brasil é uma homenagem aos 25 anos de falecimento de Cora Coralina – pseudônimo da poetisa e contista goiana, Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas. Imagens, textos e vídeos sobre a vida da poetisa.


Em determinados momentos, o público parece sentir o cheiro e o sabor das coisas. Doceira de profissão, Cora Coralina começou a escrever aos 14 anos, mas só aos 76 publicou seu primeiro livro. Em sua obra rica, a autora abordou situações do cotidiano do interior do Brasil, principalmente de Goiás, seu estado.

O CCBB é palco ainda de uma exposição imperdível. O mundo mágico de Escher é simplesmente espetacular. Reúne cerca de 92 obras do artista Holandês, Mauritius Cornelis Escher, incluindo as mais conhecidas. A exposição é de causar inveja a qualquer museu do mundo. Além das obras, tem ainda dois filmes. Um em 3-D e um documentário de uma hora sobre a vida do artista, uma forma de entender como ele se inspirava. A instalação conta também com espaços interativos, onde o público tem uma noção de como Escher trabalhava.

O artista ficou mundialmente famoso por representar construções impossíveis. Preenchimento regular do plano, explorações do infinito e as metamorfoses - padrões geométricos entrecruzados que se transformam gradualmente para formas completamente diferentes.

Uma das principais contribuições da obra deste artista está em sua capacidade de gerar imagens com impressionantes efeitos de ilusões de ótica, com notável qualidade técnica e estética. A exposição também oferece uma série de experiências que desvendam os efeitos óticos e de espelhamento que o Escher utilizava em seus trabalhos.



terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Da crise à festa no Egito – O panorama político atual


  
O que está por trás de uma revolução supostamente libertária

Alexandre Matos
O dia 11 de fevereiro de 2011 se tornou um marco na história. O mundo assistiu a um levante popular que retirou um déspota do poder após trinta anos de exploração. O ex-presidente do Egito, Hosni Mubarak, não resistiu às pressões e renunciou ao cargo. Um ato plausível. Parabéns aos egípcios. Mas e agora? Como fica a situação do país e o panorama político mundial?
 
As ditaduras me parecem ter sido as únicas formas de conter o radicalismo islâmico. Acabar com uma autocracia de três décadas seria motivo suficiente para o mundo comemorar. O movimento, porém, é liderado por militantes islâmicos, Irmandade Muçulmana. Agora que tiraram Hosni Mubarak do poder, o futuro é incerto. Certo mesmo é que o mundo torce pela democracia naquele país. Mas caso a Irmandade Muçulmana consiga o poder, o cenário político mundial pode ficar mais vulnerável.


O Egito é a maior nação árabe, com 84 milhões de habitantes. Geograficamente, o país está numa posição estratégica. Localizado entre África e Ásia, é cortado pelo Canal de Suez, uma importante rota comercial que liga o Mar Mediterrâneo ao Vermelho. Além disso, Argélia, Sudão e Tunísia, na África, bem como Iêmen e Jordânia na Ásia, seguem o exemplo do Egito, promovendo revoltas contra regimes autocráticos.

Uma brecha para o fundamentalismo
Essa situação só prova que os governos apoiados pelos Estados Unidos ensaiam um discurso progressista e democrático, mas na verdade são corruptos e exploradores.  Com o tempo, eles não conseguem sustentar a farsa, mas o estrago já é grande. Iraque, Afeganistão e Chile são alguns exemplos. O primeiro foi um aliado para o controle dos poços de petróleo na região do Golfo Pérsico e conter o avanço islâmico no Oriente Médio. O segundo, uma manobra política para evitar o avanço soviético na Ásia. Já o sul-americano teve uma das piores ditaduras da América Latina. Funcionou como uma arma contra o comunismo de Allende. A história mostrou a tirania de Pinochet, Saddan Hussein e da facção Talibã. O Egito é outro financiado pelo governo americano e sua equivocada política externa.
O medo e a total descrença em Mubarak, supostamente democrático, colaboram para que os egípcios saíssem de um ditador. Agora, porém, podem cair nas mãos de manipuladores fundamentalistas. O grupo islâmico promove um discurso teoricamente democrático e libertador. O povo egípcio está esgotado pela corrupção que enfraquece o país há três décadas. Acrescenta-se a esse fato a ignorância. Mistura todos esses ingredientes: pobreza, corrupção, descrença política, ignorância e revolta. Aumente o fogo e pronto. O resultado é um jogo de manipulação e dominação. Essa é a receita perfeita para a instalação do fundamentalismo no país africano.

Se voltarmos à história, veremos que coisa parecida aconteceu na Rússia. A revolução de 1917 derrubou o czar e “conduziu o povo ao poder”. A que poder o povo foi conduzido? Foi instituído o Socialismo Soviético, que atravessou o século XX e escravizou nações no leste europeu e Ásia, além de influenciar países da África e América Latina. Fenômeno parecido aconteceu na China e Cuba, que até hoje sofrem as conseqüências. Na Revolução Francesa, de 1789, por exemplo, as idéias eram semelhantes às da Rússia. Após a derrubada da monarquia quem assumiu o poder foi Napoleão. O objetivo era pôr fim ao regime totalitário do monarca e estabelecer uma república democrática.  O que se viu, no entanto, foi o surgimento de um novo império, o napoleônico

Esses movimentos são carregados de ideologias política, econômica e religiosa. Mas o que realmente está por trás de cada uma delas? São essas questões que temos de analisar. Sugiro o livro O que é Ideologia? - de Marilena Chauí. A escritora faz um traçado histórico e o que encobre os movimentos revolucionários. Segundo a autora, a função principal da ideologia é ocultar e dissimular as divisões sociais e políticas. A saída de Mubarak do poder foi um grande avanço. Mas é preciso ter cautela para que a história desastrada não se repita.

Torcemos por um Egito maduro o suficiente para eliminar qualquer semelhança com comunismo, imperialismo ou fundamentalismo. Que do alto de sua tradição, cultura e sabedoria milenares, o povo saiba expelir toda forma de regime totalitário e comece a reescrever sua história. Os Estados Unidos e seus aliados do mundo ocidental, por outro lado, precisam rever sua política internacional. Não é tolerável que no século XXI voltemos à Idade medieval com reinos que escravizam os povos.